Crise no IBGE reflete um país sem direção, diz ex-presidente à CNN
Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 2016 e 2017, afirmou em entrevista ao CNN 360º que a crise enfrentada pela instituição é um reflexo de um país sem rumo.
“A crise do IBGE é própria de um país que perdeu o rumo”, declarou Rabello. “Estamos carentes de uma direção segura e consistente, algo que não temos tido.”
Para ele, o problema é agravado pela falta de recursos e pela negligência em priorizar o tema no cenário político. Rabello defendeu que a situação deveria ser pauta no Congresso Nacional. “A crise do IBGE é crônica e se deve à escassez de recursos. Isso já deveria estar em discussão no Congresso, incluindo um marco geral para a estatística e a informação no Brasil, com datas definidas para a realização dos censos”, apontou.
Rabello também criticou o desinteresse do governo federal pela área. “O IBGE enfrenta essa crise devido ao desinteresse do núcleo central do governo em relação às geoestatísticas e informações estratégicas do país.”
Sob a responsabilidade do Ministério do Planejamento e Orçamento, liderado por Simone Tebet, o ex-presidente também cobrou maior envolvimento da pasta. “Em situações como essa, cabe ao Ministério do Planejamento interferir. A ministra já deveria ter tomado providências nesse sentido”, disse.
A CNN procurou a ministra Simone Tebet, mas não obteve resposta até o momento.
Conflitos internos e polêmicas recentes
A crise no IBGE ganhou força em setembro de 2023, quando uma carta apócrifa assinada por servidores circulou internamente. O documento, chamado “Declaração Pública dos Servidores do IBGE”, criticava a gestão de Márcio Pochmann e a criação da Fundação IBGE+.
Segundo o texto, a fundação, uma entidade de apoio de direito privado, foi implementada sem diálogo com os trabalhadores, gerando desconfiança sobre sua finalidade e impacto na autonomia técnica e administrativa do instituto.
“Formalizada em sigilo por 11 meses e anunciada apenas dois meses após sua oficialização em cartório, a fundação IBGE+ levanta dúvidas quanto à sua real finalidade”, destacaram os servidores.
Em janeiro de 2024, o descontentamento culminou em novos atritos: os diretores Elizabeth Hypolito e João Hallak Neto pediram exoneração, citando insatisfação com a gestão de Pochmann. No mesmo mês, outra carta, assinada por diretores e gerentes, classificou a condução do presidente como “autoritária, política e midiática”.
Os servidores afirmaram que a fundação foi imposta como “a única solução” para resolver a falta de recursos financeiros. Eles exigem a paralisação das atividades da Fundação IBGE+ e alegam que a gestão atual compromete os princípios e a missão institucional do instituto.
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